José Antônio Cavalcanti




Cartas húngaras

Sou um jovem poeta húngaro
em 1915.
Meu nome é István Szabó.
Há dois anos saí
de Győr
para viver em Budapeste,
do lado direito do Danúbio.
Estudei medicina
na Universidade Semmelweis,
antes que um fuzil caísse em minhas mãos.
Agora, do outro lado do rio,
há algo úmido e vermelho em minha farda,
há algo errado,
sempre há algo errado,
e não podemos fazer nada.
Sentado em silêncio mortal,
percebo a perda
de todas as cartas.
Sim, digo todas,
e isso é muito claro,
embora a única lacuna que lateja
são as cartas de amor
levadas lentamente pelo Danúbio
à margem intangível do tempo.

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